domingo, 19 de dezembro de 2010

A vida

A vida é um bem.
Não quero fazer parte dos grãos de uma rocha.
Não gosto de monotonias.
Viver é algo verdadeiramente único.
Dizem que não existe perfeição.
Para mim a vida é perfeição.
É algo divino.
Quem inventou a vida?
Não gosto de pensar em Deus, como alguém que nos criou, de qualquer maneira.
Adoro este enigma.
Não sou um corpo, então, que sou eu?
Eu sou os meus pensamentos, a minha experiência, os meus sentimentos.
Isso sou eu.
Eu sou uma consciência.
Será que a minha consciência, este eu que sou eu, é a minha alma?
Mas de que é feita essa alma que se serve do meu corpo?
Se a alma não tem átomos, então é o quê?
O que é a vida afinal?
A vida é um conjunto de processos complexos de carbono.
Sinto que faço parte de um ciclo de matéria, como fazem os átomos de uma mesa ou de uma galáxia distante.
Somos todos iguais.
A vida é apenas a expressão de equações matemáticas que obedecem às leis da física.
Não existe força vital.
Apenas resultamos da espontaneidade da organização da matéria.
Da complexificação da matéria inerte.
Esta consciência é apenas o produto da complexificação da vida.
É quase tudo uma questão de semântica, uma organização.

Eu

Não sei como me expressar por palavras.
Por vezes, invade-me uma vontade de escrever como um pintor que pinta uma tela.
Mas apenas passam as imagens como um flash de uma camâra fotográfica.
Quero escrever.
Não quero apenas ver e imaginar.
Quero encontrar.
Adoro a inspiração.
Adoro sonhar.
Gosto de passar e sentir tudo à minha volta e desligar o meu pensamento.
Tentar encarnar em todas as coisas até numa simples pedra de uma calçada.
Pensar como era viver assim.
Pensar, pensar, pensar.
O vazio parece-me impossível.
Isto cansa-me.
Tenho fome de palavras.
Alimentar esta sede tornou-se um desafio.
Preciso de mais, cada vez mais de diferentes tons para pintar a minha tela.
Tento procurá-los. 
Será que vale a pena?
Gostava de voar.
Atravessar as nuvens furando-as com toda a velocidade.
Sentir-me apenas rodeada de céu.
Queria tocar nas estrelas.
Mas não posso sair desta atmosfera.
Estou presa.
Presa à Terra.
Não quero parecer lunática, quero ter os pés assentes na Terra, mas quero mesmo tocar nas estrelas.
Não me deixam tocar-lhes.
Já tive oportunidades.
Toda a gente as tem.
Os que sonham, claro.
Mas, não podemos.
Detesto estar condicionada.
Quero ser livre.
Como se estivesse a correr num prado verdejante com o meu querido céu azul, mas desta vez sem nuvens.
Sentir o sol queimar na minha pele, correndo-me aquele arrepio quente pelo meu corpo.
Correr até as pernas enfraquecerem, caindo sobre a sombra de uma árvore e fechar os olhos ao som da música da natureza.
Aquela leve brisa fresca que movimenta a paisagem verdejante, a bater no meu rosto.
Adoro a tranquilidade.
O silêncio incomoda-me como um zumbido inquietante.
A solidão aterroriza-me e provoca-me esta paixão pela juventude.